Ainda era cedo e eu já havia despertado chequei as notícias do dia ainda sonolento por ter dormido pouco na noite passada, nenhum protesto, nenhuma greve, apenas um dia quente no centro da cidade que não me impediria de começar minha jornada de aprendizagem e sofrimento diário.
Sempre foi assim, fui um ótimo aluno na escola - mesmo com as dificuldades- quando terminei o ensino médio à três anos atrás, consegui uma bolsa em um dos melhores pré-vestibulares da cidade, meu sonho sempre foi entrar para faculdade de medicina, mas a minha base como aluno na escola pública ainda era muito fraca, então após três árduos anos tentando, eu ainda estava lutando para conseguir realizar meu sonho.
Levantei para tomar meu café, já passava das cinco da manhã e meu pai não estava lá, já tinha partido para mais um dia de trabalho, e minha mãe corria para arrumar o lanche da minha irmãzinha para a escola. “Ajuda a Júlia a calçar o sapato”, ouvi a mais velha gritar apressada da cozinha, a Juju estava sentada no sofá de casa com os olhinhos vidrados em algum desenho idiota, rindo enquanto comia o seu pão.Peguei o sapato jogado no canto da parede e a calcei, ela ainda não me olhava estava entretida com o mundo de fantasias de um gato louco na televisão, pousando um beijo em sua testa logo em seguida
Eu não trabalhava, após tentativas e inúmeros currículos aplicados eu ainda não havia obtido nenhuma resposta, eles sempre exigiam a experiência profissional que sempre me era negada, então como ainda não podia ajudar financeiramente em casa, eu comparecia como podia, ajudava a Juju nas tarefas de casa, fazia o jantar quando podia, mantia a casa limpa enquanto ela estava fora.
Fui até a cozinha e peguei uma banana e um pão para comer no caminho, a minha mãe agora lavava as poucas louças que estavam na pia. “Bençamãe.” falei em uníssono estendendo minha mão direita, ela correu para alcançar o pano de prato e secar as suas mãos e agarrá-la, respondendo “Deus te abençoe, meu filho!Tome cuidado.”, eu beijei as costas de sua mão ainda sentindo sua mãe úmida.
Em meu quarto olhei o meu quadro de estudos, e olhei meu planejamento de aulas do dia, duas aulas de matemática,uma de literatura e duas aulas de física, bufei incrédulo. “Que tipo de pré-vestibular exige que os alunos prestem atenção em duas aulas de matemática e duas aulas de física em plena sexta-feira?”. Peguei meu livros e enfiei na mochila já pesada e fui em direção a porta de casa.
Após de ter aproveitado a viagem de ônibus para comer, finalmente cheguei na estação de metrô, uma multidão já havia se aglomerado na ponta da plataforma de embarque, alguns alunos mexiam em seus celulares, outros reliam alguns papéis enquanto os ambulantes anunciavam a venda das mais diversas mercadorias. Não sei se era sonolência ou apenas a energia que eu encontrava naquele lugar todas as manhãs, mas sempre me perguntava pra onde aquelas pessoas iam, o que movia cada um deles a estar ali.
O metrô chegou, e enquanto todos se espremiam para entrar em um vagão lotado, eu ainda me perguntava quantos sonhos cabem em uma plataforma de embarque.